Diretamente da África
- Carlos Eduardo Araujo
- 27 de ago. de 2017
- 5 min de leitura
Olá sócios e amigos, para quem não sabe ainda ou é novo na AMES, somos um casal de escaladores e sócios, Dudu e Carol, que desde março está na África fazendo trabalho voluntário. Já passamos por África do Sul, Namíbia, Botswana, Zâmbia, Zimbabue, Malawi, Tanzânia e agora estamos indo em direção ao Quênia para mais um trabalho.

Desde Botswana estamos de carona com a Acacia Africa, uma empresa especializada em transportar, de forma outdoor, pessoas por diversos países e atrações do Continente Africano.
Mas vamos ao que importa, durante nossa passagem pela África do Sul, mais especificamente Cape Town, tentamos escalar a famosa Table Mountain. Tarefa difícil, uma vez que por questões de facilidade de deslocamento, acabamos trazendo só sapatilhas e magnésio para nossa viajem. Entramos em contato com o ClimbeZA e a The Mountain Club of South Africa, associação que atualmente gerencia as escaladas dentro do Table Mountain National Park, para nos ajudar na nossa tarefa e emprestar ou alugar algum equipamento. O parque é um complexo de 60km de montanhas, da conhecida Table Mountain até Cape Point.

Escalar a Table Mountain significa que você está em um dos paraísos da escalada tradicional, então nada de chapeletas e paradas, tudo em móvel e com poucas opções de descenso, mais uma dificuldade, pois se não for acompanhado fica difícil encontrar as bases das vias e as vias em si. Infelizmente não tivemos resposta em nenhum dos contatos que fizemos. Ficando sem tempo e sem opções de escalada, decidimos subir do jeito mais tradicional, pela trilha que leva ao topo. Então vamos dar algumas dicas caso alguém queira fazer esse trekking morro a cima para curtir a beleza da trilha e por fim tomar um mate no topo da Table Mountain.
O que fizemos:
Acordamos cedo, tomamos café da manhã, enchemos o camelback com 2 litros de água, mais uma térmica e apetrechos para o mate, alguns snacks para a trilha e pegamos um uber até a base. Fiquem atentos as condições climática, aqui ocorre a viração também, tente sair cedo e em um dia sem nuvens ou muita variação de temperatura, pergunte para um local se a previsão é boa para subir, todos conhecem bem as condições climáticas e as informações são confiáveis.

Lembrando que você está no Table Mountain National Park, então existem diversas trilhas dentro do parque, mas a que todos querem fazer é a que leva ao topo do platô, de onde é possível avistar Cape Town. Essa trilha tem fim no famoso Cable Car. Dica importante, se a época for de seca (Primavera, Verão), não comece pela base do Cable Car, você vai caminhar mais de 40 minutos sem muita emoção, agora se a época for de chuva (Outono, Inverno), recomendamos começar até um pouco antes do Cable Car, pois você irá passar por diversas cachoeiras nesta parte da trilha. No nosso caso, fomos além da entrada do Cable Car, aproximadamente 2km adiante, onde a base da trilha Platteklip Gorge (trilha mais popular), trilha de 2 horas até o topo e mais 30 minutos até o Cable Car. Iniciando a 400m acima do nível do mar e terminando a quase 1200m, a trilha é bem puxada, poucas partes planas, 90% da trilha é subida, como se estivesse subindo degraus bem irregulares.
Iniciamos nossa caminhada às 10 horas da manhã e com paradas para fotos, água, snacks e xixi chegamos ao topo exatamente 2 horas após inicio. Tênis de trekking é essencial, melhor se for bota, chapéu, protetor roupas leves para a trilha e corta vento para o topo, sempre venta muito.


No topo é possível passar mais algumas horas percorrendo outras trilhas e observar diversos pontos da cidade e arredores. O percurso até o Cable Car é onde possui as melhores vistas e a melhor estrutura de trilhas, com muita informação e pontos para, no nosso caso, matear. Neste momento decidimos que não iríamos descer pela trilha e sim pelo Cable Car, assim teríamos mais tempo para curtir o topo e as paisagens. Decidir na hora que você quer descer pelo Cable Car não tem problema algum, você pode comprar na hora, tanto a subida como a decida, ou ainda comprar os dois sentidos juntos, caso não tenha condições de subir pela trilha. Na subida, encontramos muitas pessoas que fizeram o inverso que nós, subiram de Cable Car e desceram pela trilha, mas daí ta mais para rapel do que para escalda, hehehehe.
No topo, um pouco antes de descer encontramos um casal de Alemães que subiram escalando e iriam descer pelo Cable Car, perguntamos se eles tinham entrado em contato com alguma associação ou com o parque para escalar e disseram que não, estavam por conta. Segundo o guia que compramos, é possível fazer isso, mas para que os responsáveis pelo Table Mountain National Park continuem a permitir a escalada no parque, você deve entrar em contato com a associação e receber uma espécie de permissão, política de boa vizinhança.
Caso você planeje uma ida para Cape Town para escalar as mais de 350 vias ativas e que valem a pena, vai algumas informações.
O principal setor na Table Moutain em si é o The Ledge, aqui você encontra as melhores e mais tradicionais vias. Caso o clima não permita, você pode escalar em outros 3 lugares, Elsie’s Peak, Muizenberg Crag e Lions Head (Sandstone e Granite). A Table Mountain é quase que 100% arenito, normalmente de ótima qualidade, quase um granito, mas variações de qualidade são encontradas entre vias e não somente entre setores. Com relação a equipamentos a Table Mountain é muito amigável, praticamente todas as vias é possível proteger com um rack de escalada tradicional, que consiste em um conjunto de Cams (com alguns duplicados), uma boa seleção de nuts, oito a dez costuras e alguns prolongadores, contudo alguns micro cams e wires podem ser necessários em algumas vias. A maioria das vias podem ser escaladas com uma corda simples de 60m, mas o recomendado é duas cordas de 60m, principalmente se você estiver no The Ledge, onde duas cordas é obrigatório para o descenso. Capacete é obrigatório, afinal tem um monte de gente acima de você.
Regras simples como avise a The Mountain Club of South Africa, das suas intenções de escalada, descenso somente em locais apropriados e permitidos e mínimo impacto são exigidas. Como regra eu adiciono a ajuda de um local e a aquisição do guia Cape Peninsula Select – A guide to trad climbing in the Cape Peninsula, você não vai querer entrar em uma via tradicional com dificuldade 34 (Africana) ou 8c (Francesa), sem saber.
Bom, espero que gostem e que algum sócio da AMES tenha a chance de escalar essa que na nossa humilde opinião é uma das MECAS da escalada esportiva no Mundo.
Segue algumas fotos, abraços e nos vemos em Dezembro.
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