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Escalada no cerrado (Pirenópolis e Águas Frias de Goiás)

  • André Sette
  • 4 de out. de 2016
  • 4 min de leitura


É bem verdade que o Brasil, por ser um país de uma imensidão territorial, nos presenteia com diversos biomas e cada qual com sua beleza e exuberância, mas quero aqui destacar minha saída do bioma pampa onde estou acostumado, para uma viagem ao caloroso cerrado brasileiro no Planalto Central.

Conhecer o Estado de Goiás foi algo muito enriquecedor para mim e minha amada Andreza. Descemos no aeroporto de Goiânia com um mormaço de quase 40 graus, conhecemos um pouco da cidade e fomos logo para Pirenópolis, onde já tínhamos a pousada reservada, aliás, a cidade tem inúmeras pousadas pois se trata de um local muito frequentado por turistas.

Além das belezas naturais da região como cascatas e parques protegidos, Pirenópolis possui uma das maiores festas do Brasil que foi decretada como patrimônio cultural, por ser realizada a quase 2 séculos, conservando os costumes e a cultura local. Trata-se da Festa do Divino Espírito Santo, que acontece sempre 50 dias após a Páscoa e dura 43 dias. Nela, acontecem várias festividades, rituais, brincadeiras e cerimônias religiosas. Descobrimos isso tudo e mais um pouco quando dedicamos um dia pra conhecer a cidade.


Mas o que queríamos mesmo, era conhecer o Parque Estadual dos Pireneus, a 20 km da área urbana. Lá, e também no caminho, nós desfrutamos da linda paisagem do cerrado com espécies bem diferenciadas da vegetação do sul, nativas e exóticas específicas dali, além da linda fauna local é claro.




Escalamos no setor Três Picos, com rochas de quartzito em meio ao visual do cerrado brasileiro, por sorte tivemos uma temperatura mais agradável a partir do terceiro dia, porque o calor no planalto é sempre forte. Escaladores planaltinos costumam escalar a noite em certas ocasiões pois em alguns setores a temperatura da rocha fica insuportável.




E a região também oferece aos escaladores, muitos setores consideráveis e já tradicionais de boulders como o Morro Cabeludo também dentro do Parque dos Pireneus e Cocalzinho de Goiás mais próximo do Distrito Federal.



No quarto dia, saindo de Pirenópolis, fizemos uma conexão por Brasília com nosso contato Douglas Antunes, montanhista brasiliense que nos hospedou e nos guiou para um outro lugar que tivemos o privilégio de conhecer. Falo agora do setor de escalada Belchior, no Município de Águas Frias de Goiás, que fica mais próximo do DF e longe de Goiânia. Pois bem, penso que se tem uma definição mais adequada para apelidar o setor de Belchior, seria algo como "castelo dos sonhos."

Esse lugar é incrível, nunca havia conhecido nada parecido, quem conhece se apaixona, difícil não querer voltar. Montanhistas da região afirmam que segundo pesquisadores, há milhares de anos, o local se apresentava com várias cavernas que tiveram seus tetos cedidos. E isso tornou o que é hoje denominado como os salões de Belchior. Salões que se interligam por passagens estreitas e escuras, muitas delas com lindos portais arcaicos por onde o caminho, por vezes labirintoso, vai nos revelando lindas colunas lisas, sinistras câmaras geladas, buracos negros misteriosos, além de estalactites e estalagmites muito antigas. Tudo está bem preservado, e essas lindas formas espeleológicas são provas vivas e residentes na história geológica de nosso Planalto Central.




As vias de escalada se situam na parte interna do complexo, sempre dentro dos salões a céu aberto e possuem dificuldades pra todos os gostos. As formas e a textura do calcário são impressionantes, a rocha é bem consistente e dificilmente se quebra, até mesmo as lacas finas. Encontramos fendas, tetos, diedros, chaminés, boulders e diversos totens curiosos como o toten da folha, uma parede isolada dentro de um dos salões, com uns 20 metros de altura e 50 cm de espessura onde se escala frente e verso. No alto dos paredões que variam de 20 a 30 metros, e também no cume deles, as formações da maioria das agarras lembram espadas ou pontas de lanças e isso faz com que quem olhe de fora, sinta um aspecto de castelo, realmente um lugar magnífico.

Em tempo, diferenças entre Piri e Belchior nos fizeram refletir. Mas não me refiro às diferenças que nos contagiam, como os tipo de afloração rochosa, geologia, clima, fauna, flora, espeleologia ou paisagismo. Quero ressaltar aqui a importância de preservação e de se proteger locais como esses.

No caso do parque estadual dos Pireneus, com uma área de mais de 2.800 hectares, já se tem proteção ambiental, foi criado em 1987 e é controlado e administrado pela Secretaria Ambiental do Estado. Por outro lado, ainda não se tem proteção ambiental nos rochedos de Belchior. É uma área pequena e assim, dificilmente se enquadraria na situação de Parque Ambiental ou RPPN. Talvez a melhor opção, é que seja decretado como patrimônio histórico por parte dos governantes do Estado ou Município, mas contudo, isso ainda deve envolver muitas pesquisas e um levantamento convincente no nosso Castelo do Cerrado. Por enquanto as coisas andam calmas por lá, mas existe uma grande preocupação com uma possível exploração do local por parte de mineradoras da região. Seria muito triste ver um paraíso montanhístico encantador como esse, se transformar em cimento. Penso que a salvação seria unir forças, com o apoio de governantes e entidades afins, mas principalmente, agregando pessoas interessadas e capacitadas para que através de meios legais, possam transformar o Castelo de Belchior em um Monumento Histórico, e protegido por lei. Associações da região como a AEP, (Associação de Escaladores do Planalto), enfrentam dificuldades tremendas como já enfrentamos aqui no sul também, de não termos pessoas suficientes para atuar e lutar por nossos objetivos. Espero que o pensamento de união passe a vigorar mais nos montanhistas no que diz respeito a clubes e associações e que as coisas melhorem por aí. Entidades são muito importantes para o crescimento do nosso montanhismo e fundamentais para que possamos lutar e vencer causas e batalhas montanhísticas. No que for possível a Ames estará no apoio por aqui. Sei que essa tarefa não será fácil, mas temos que ficar atentos, pois muitas vezes, a burocracia é dolorosa e demorada para o bem, e tranquila e rápida para o mal ou para quem dá mais. Abraço aos amigos do Planalto e DF, esperamos poder voltar logo porque aí é bom demais.


André Sette - Presidente Ames

 
 
 

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