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A Conquista da Pedra Redonda

André Sette
30 de jul. de 2016
6 min de leitura

Caçapava do Sul.....

Já se passaram 20 anos desde que comecei a escalar nessa terra magnífica, repleta de vales em meio aos rochedos de conglomerados por onde a energia corre solta...

Em 12, desses 20 anos, eu e meus amigos, ao irmos para outros picos (Pico do E.T e do Sorvete), passávamos diversas vezes por essa gigantesca nave-mãe das pedras, talvez a maior em altura e perímetro da região. Admirávamos a sua imensidão, a beleza de seus bosques altaneiros e imaginávamos uma boa possibilidade de grudar os dedos em suas faces verticais, explorar seus contornos e penetrar em suas grutas ainda intactas da pegada do homem.

O desejo começou bem antes, mas o contato mais próximo de suas paredes começou em meados de 2008, na qual realizamos alguns reconhecimentos e estudos detalhados para que pudéssemos aproveitá-la ao máximo em toda a sua metragem lateral e fizéssemos as possíveis 5 enfiadas até o cume pelo lado norte/nordeste, onde abrange mais o sol.

E assim, teve início uma das mais belas conquistas de montanha da Ames, numa enorme pedra onde não havia nenhuma via.

Aliás, os picos e setores de escaladas que são mais afastados do Camping Galpão de Pedra ou da estrada, são logicamente bem menos visitados do que Pedra do Leão e do Segredo que ficam mais acessíveis, mas ao mesmo tempo, vejo também que poucos montanhistas se interessam em explorar e escalar novos picos e partirem para um trekking mais forte e talvez pernoitar fora da mordomia do camping.

Recomendo a todos aqueles que sentem o montanhismo no sangue, que não demorem para conhecerem lugares como esse, mesmo que sejam afastados de qualquer melhor estrutura, percebam a insistência dos mais antigos em lhes passarem essas experiências, vivam as montanhas intensamente, contemplem o sol e a lua na radiante selva de pedra, durmam no cume, e tenho certeza de que voltarão ao campo base totalmente renovados.

A Via "Dona Amantina" na Pedra Redonda ou Pedra da Santinha (também a chamo de Big Stone), foi finalizada no início de 2012, e é claro, o nome é uma homenagem a Dona Amantina Teixeira, esposa de nosso querido Manoel Teixeira do Galpão de Pedra. E de acordo com cada momento, cada enfiada ou gruta teve também seu nome próprio.

"A Big Stone sempre esteve ali, esperando alguém para escalá-la." A7

>>>Conquistadores:

Podemos dizer que essa via, desde o início foi uma ação conjunta da Ames, pois durante os 2 anos de estudos e 4 anos de conquista, diferentes membros, sócios da associação na época, deram suas contribuições, porém, como sempre estive no comando em todas as vezes, podemos resumir como Ames - Conquistador chefe, André Sette e conquistadores principais, Paulo Menezes(sócio), e Cesar Hascek, membro de 2007 a 2012.

Mas não podemos esquecer de todos os demais que apoiaram e ajudaram nessa conquista. Desde o primeiro olhar de imaginações mil com meu grande amigo Gilson Januário de 2006 para traz, os reconhecimentos da rota planejada com meu primo Iverson Angonese em 2008, os testes nas enfiadas terminadas e as sequências nas grampeações das enfiadas com o apoio de Osni Gonçalves, Sandro Klein, Marlon Roberto, Marlon Pinheiro, Leandro Silva, Mara Machado (sócia) e Guilherme Grassel(sócio) de 2008 a 2011, até chegarmos enfim, no ano de 2012 com a conquista da 5ª e ultima enfiada, que leva o nome de Oásis da pedra, um capão na ultima prateleira da via sob uma enorme aba de pedra, protegido da chuva e dos fortes ventos, e se precisarem, tem lenha seca e sinal de rede telefônica, hehe.

A ultima enfiada conclui na companhia de um sol forte e de uma lua inesquecível.

E para coroar, ainda tivemos no ano de 2013, a conquista de uma enfiada esportiva na base do Oásis, também com acesso ao cume, porém mais a esquerda. E dessa vez, Eliezer Maciel(sócio), grande amigo e parceiro, conquistou a nova enfiada foi comigo.

>>>Acesso:

Para conhecimento de todos que vão ao Galpão de Pedra, se informem com o pessoal da casa para seguir a trilha para o morro do E.T, que passa pelo acesso a pedra redonda.. Conforme na foto, o rabisco em amarelo escuro define as trilhas entre as enfiadas, nas prateleiras(platôs extensos), trilhas de acesso a pedra e ao seu cume.

Dependendo do ritmo, quantidade de pessoas e de qual logística foi planejada, leva-se em torno de uma à duas horas para chegar.

Essa pedra nos proporciona a possibilidade de se elaborar diferentes logísticas numa ida até ela e seus arredores. Mesclando além do trecking, uma escalada fácil, um acesso ao cume, um pernoite na pedra(cume ou oásis), uma escalada mais forte, uma ida ao morro do ET, e o que sua mente sugerir, desde um roteiro mais suave até um mais intenso.

Pode se acessar desde o inicio na 1ª enfiada, acessando pela trilha do córrego seco que começa na gruta da santinha (uma gruta de pedra na encosta da Pedra Redonda com uma imagem de virgem Maria), uns 200 metros. Pode se acessar por traz da gruta da santinha, uma trilha já sobre a rocha que sai acima da 3ª enfiada na prateleira central, podendo contornar toda ela até o cume (uns 500 metros) ou se preferir, escalar da 4ª enfiada em diante. Pode se também acessar ao cume pela trilha que passa pela gruta da santinha a esquerda e vai em direção ao morro do E.T que fica atras da Pedra, acessando a mesma pelo lado sul, e subindo depois até o cume (em torno de 30 minutos após a pedra da santinha).

E pra quem quer escalar mais forte, uma boa dica, somada ao trecking, é ir direto até pouco antes do cume pela trilha sul, acessar o oásis da pedra na ultima prateleira, rapelar e malhar na 4ª enfiada da via (cactus salvadores traço azul na foto/7a/b) pra aquecer e após, a 5ª enfiada opcional (traço laranja na foto/8a), que fica entre os dois capões do oásis, seguindo depois para uma escalada nas duas vias fortes do Pico do ET a tradicional via do E.T/7a, de João Giacchin e a via Noiva de Sette/8a/b de minha autoria e de Samaroni Zanotti. E caso queira ficar por lá, recomendo um pernoite sob o queixo do E.T. É fantástico, o local é muito alto considerando o lado sul do vale, e no silêncio da noite, os ventos começam a cantar.

"Quando as rajadas fortes dos ventos da noite funcionam como ópera para os ouvidos, sim, percebemos que esse é só mais um motivo que nos define como montanhistas." A7

>>>Graduação/Enfiadas:

1ª enf. / Rampa de acesso - 4º/5º grau - 30Mt, 10 prot. - linha dourada

2ª enf. / Espinhos abaixo - 5º/6º grau - 35Mt, 10 prot. - linha rosa

3ª enf. / Cobra Verde - 6º grau/crux-7A - 25Mt, 12 prot. - linha verde

4ª enf. / Cactus salvadores - 6ºSup(2 crux 7A/7B) - 30Mt, 14 prot. - linha azul

5ª enf. / Oásis da pedra - 4º grau e trilha ao cume - 15Mt, 4 prot. - linha lavanda

>>obs: 5ª enfiada opcional ou esportiva - 7ºSup/8A - 25Mt, 10 prot. - linha laranja

"Se não fosse o bom humor", (filete de rocha exposta entre os 2 capões do oásis da pedra)

..Observações na demonstração da foto:

Em 2X brancos - paradas das enfiadas (dois pontos)

Em traço amarelo escuro - trilhas entre as enfiadas e de acesso ao cume

Cruz branca - local da gruta da santinha pra localização

Triangulo vermelho - cume e oásis da pedra mais abaixo, pernoite recomendável.

Desenho de cactus - pontos onde encontramos o delicioso fruto do cactus mandacaru.

Considerações:

Para finalizar quero agradecer de coração aos meus familiares que sempre admiraram minha paixão pelas montanhas e em especial ao meu amor, Andreza Florinda que nos deu o grande prazer de um ano atras, passarmos uma noite no Oásis da Pedra juntamente com nossas filhas Nathalie, Géssica e Maria, foi uma jornada linda e memorável.

Um muito obrigado também, aos administradores do Camping Galpão de Pedra, Seu Manoel e Dona Amantina, por todo carinho e receptividade em todos esses anos de conquistas nessas terras. Com certeza, é um lugar onde sempre me sinto em casa.

A Ames, minha segunda família, montanhistas de coração, vocês são demais.

Obrigado a todos e borá lá conhecer a Pedra Redonda e arredores.