Como ser mãe e escaladora!!!!
- MARA PRESTES
- 25 de set. de 2015
- 3 min de leitura

O meu contato com a Montanha ocorreu tarde, após algumas perdas significativas passei a ver o mundo de outra perspectiva. Porém a vida estava apenas começando, e o contato com a Montanha me fez sentir algo que transcende qualquer tipo de explicação. Semelhante sensação eu tive quando me tornei mãe, foram dois amores à primeira vista. Amo ser mãe e amo escalar, é aí que todo o dilema começa, pois, como será possível distinguir e conciliar o papel de mãe e o de escaladora?
Por um lado surgem as críticas externas, como se o fato de eu ter me tornado mãe impossibilitasse a realização de qualquer tipo de atividade, principalmente uma que envolve risco. Riscos? Sim, temos o “direito ao risco”[1], mas isso não significa que agiremos de forma inconsequente, sem as devidas cautelas e seguranças. Por outro, as críticas internas. Gostaria de carregar eles comigo, aonde quer que eu fosse, e se eu não fizer isso estarei sendo uma péssima mãe. Será? Entendo que não, a escalada não é um esporte que poderemos praticar ad eternum, e de maneira alguma quero, em algum momento da minha vida, olhar para meus filhos e dizer que deixei de fazer alguma coisa importante, pois tive que dedicar o meu tempo exclusivo a eles, condenando-os por não poder viver os meus sonhos. Meus filhos não são um fardo, muito pelo contrário, eles são a minha maior riqueza, a minha felicidade.

Mas os problemas não param, existe toda uma logística a ser elaborada quando o assunto é viagem para escalar. Onde vou deixar meus filhos? Será que eles vão ficar bem? Sou mãe de três crianças, e no início ninguém queria cuidar de todos ao mesmo tempo, queriam apenas uma criança, três eram demais!!!!
Aos poucos encontrei formas e tracei planejamentos de longo prazo, dessa forma programava minhas viagens com antecedência e sabia que meus filhos ficariam bem. Claro que aqueles “bate e volta”, combinados pelo grupo à noite, sobre escalada no dia seguinte pela manhã, se tornava inviável, mas a adaptação é fundamental. Nem sempre poderei estar presente em todas as atividades, mas o importante é poder estar, ao menos em alguma. A grande maioria dos esportistas, ou são solteiros ou estão entre casais que escalam, e essa não é a minha realidade. Meu companheiro não pratica o esporte, porém compreende a minha paixão e me apoia nessa aventura de ser mãe e escaladora!
Dedico o máximo do meu tempo a eles, quando o assunto é crianças, é necessária rotina, mas em algum momento faço uma quebra e dedico um tempo voltado à Montanha, à natureza, esse contato renova as minhas forças, para enfrentar as dificuldades do dia a dia, e poder passar o que há de melhor em mim para os meus sucessores.
Criamos expectativas como mães escaladoras, queremos ver os nossos filhos escalando. Um dia precisaremos de alguém jovem guiando vias que não conseguiremos mais, rsrsrsrs. Mas isso deve ser natural, a criança deve querer, tenho dois meninos e uma menina, imaginei que os meninos seriam meus parceiros de escalada, triste engodo, minha grande parceira é a menina, atualmente com 9 anos de idade, tem sede de escalar, briga por uma “segue”, ou para ser a primeira a escalar, isso me realiza plenamente como mãe e como escaladora.
MARA PRESTES
[1] ILHA. André. O direito ao Risco. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/opiniao/o-direito-ao-risco-11146466>. Acesso em 02 Set. 2015.
Komentar